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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Ensaio sobre a cegueira - José Saramago

Um dia, sem mais nem menos, um homem ao volante fica repentinamente cego. Um grande buzinaço se inicia na rua, até que algumas pessoas resolvem ir até o carro verificar o que aconteceu. Ao constatarem que o motorista estava cego e não poderia mais dirigir, diversas pessoas se dispõe a ajudá-lo. Estacionam seu carro na rua, levam-no até em casa e o deixam no sofá a espera de sua esposa. Ao chegar, sua esposa se depara com seu marido inexplicavelmente cego e corre para levá-lo ao oftalmologista, quando percebe que haviam lhe roubado o carro.  O médico, consternado com o fato, o examina e não chega a nenhuma conclusão. É uma cegueira diferente, branca, não uma escuridão como se esperaria.
Nessa mesma noite, a esposa do primeiro cego e o médico também ficam cegos. O médico reporta às autoridades sobre a cegueira repentina que começam a receber, um atrás do outro, relatos similares de mais cidadãos ficando cegos sem motivo. O governo decide, então, reunir os novos cegos e os isolar em quarentena, até que se descubra como lidar com essa nova doença. A esposa do médico, que não estava cega, assim se declara para não se separar do marido nessa situação tão adversa.

Começa então uma operação de quase guerra: o governo os coloca num hospício desativado, com soldados fazendo a vigília do local para garantir a ordem e evitar a fuga dos doentes. Os doentes não tem contato algum com o mundo externo. A comida é enviada a eles, mas não parece ser suficiente. Dia após dia, mais e mais pessoas são enviadas ao hospício, e os cegos vão se organizando em uma estrutura social própria. E, deparando-se com cada dia um novo desafio, pouco a pouco, Saramago nos releva a verdadeira humanidade. E essa humanidade não é nada daquilo que romantizamos, onde se priorizam a cooperação e o bem estar coletivo, mas crua e cruel, egoísta. O autor também nos mostra como ser a única pessoa que enxerga num mundo de cegos pode se transformar de uma grande vantagem em fardo, dor e culpa. 

Saramago rompe barreiras nessa obra. Não apenas da desnudez da humanidade, mas também de normas da escrita. Nenhum personagem no livro tem nome próprio, não há parágrafos e travessões para indicar diálogos. Mesmo assim, a compreensão sobre qual personagem disse qual frase é perto da perfeita. Somente me perdi em um diálogo onde havia 4 personagens falando simultaneamente. Este livro é só mais um indicativo de como Saramago era um gênio de literatura e de que a máxima de que é preciso conhecer as regras para subvertê-las é verdadeira. Me despertou a vontade de ler todas as obras do autor. 

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