Ambientada na famigerada Macondo de "Cem Anos de Solidão", Gabo, nos faz rir e indignar com a história de um coronel reformado à espera da sua aposentadoria militar há 15 anos (sim, este livro é um spin off datado de 1961). "Eles vão me pagar a minha aposentadoria, eles tem que me pagar. Eu lutei por este lugar, cumpri a minha parte. Essa ordem de pagamento vai chegar mais dia, menos dia pelo correio", o coronel tenta convencer a si mesmo e a sua esposa. Todos os dias sai de casa e caminha até o porto da cidade para esperar o barco com as cartas dos correios. E todos os dias volta de mãos vazias.
Sua esposa sofre de asma, sua saúde oscila entre suficiente e péssima, e ela constantemente necessita de consultas ao médico e remédios caros. O casal se encontra em luto devido à morte de seu único filho. Mas, será que ele morreu mesmo? Bilhetes sendo passados, mensagens e diálogos incompletos aqui e ali, às vezes nos dão a entender que não. O fato é que a fome passou a assolar o lar do casal. Os vizinhos os percebem aos poucos definhando, emagrecendo, vendendo o parcos pertences de valor da casa para comprar comida. Lá se foram o relógio e o violão. Quantos mais pertences existem na casa? Com quantos é possível viver de forma digna?
Apesar de muita insistência da esposa, um bem que o Coronel não aceita de forma alguma vender é o galo de rinha deixado pelo filho. Antes fonte de renda para a família, o galo se torna um dreno de dinheiro e de comida. Durante todo o livro há um intenso preparo e uma angustiante espera para a próxima rinha que aconteceria no mês de Janeiro, onde seu galo era o favorito a campeão. Visando manter o animal forte e preparado fisicamente, o Coronel às vezes desvia comida dos humanos da casa para dar ao bicho. Um dia o sacrifício vai compensar. Mas esperança enche a barriga?
A asma, a fome, o estresse com a aposentadoria que não chega, a data da rinha que parece estar cada vez mais distante, o luto com a morte do filho. A situação vai ficando insustentável e desesperadora. É um livro bastante curto, sutilmente engraçado e intenso. Ao final, mais uma vez, Gabo não finaliza a história da forma como se espera, não nos dá fechamentos ou sequer esperança. Nos ensina a ler e entender a experiência literária de forma diferente. E você que se vire com as expectativas que criou, caro leitor.
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